28 de fevereiro de 2011

O amor está no desemprego!

"Era previsível que isto fosse acontecer e aconteceu. O amor está também no desemprego e engrossa as filas enormes que vão dando a volta aos prédios. O amor está na fila, cabisbaixo, a pensar na vida ou possivelmente na falta dela. Dizem que tem a ver com a crise a nível global, mas quer-me parecer que em Portugal o que quer que seja, é sempre ajustado à nossa realidade. Nada é global em Portugal, mesmo a globalização tem uma versão nossa. Por mais que abram franchising. Tem que haver a nossa mão, tem que haver cozido à portuguesa uma vez por semana, tem que haver Amália, tem que haver o nosso jeito, mesmo que seja só para o retoque final. E talvez por isso, exista um amor português. Que está justamente no desemprego como o outro. Mas este é nosso. E por isso nos dói.

O amor em Portugal está então como se vê e a culpa foi da alteração do modelo de contrato de trabalho que até então vigorava e que nestes últimos tempos – por causa desta maldita crise – foi perniciosamente alterado. Eu sou desse tempo, do tempo em que quando se amava alguém, imediatamente se erguiam as canetas, os papéis na mesa e nos comprometíamos a amar-nos uma vida inteira, recebendo por isso todas as regalias inerentes a um contrato de trabalho, que nos garantia a imediata pertença ao quadro da empresa, garantindo assim subsídio de Natal, férias, segurança social, essas coisas.

Só que essas coisas alteraram-se. E do mesmo modo que se instalou a mania do trabalho precário, logo vingou o amor precário. E quantos mais contratos se celebravam a recibo verde, mais amor a recibo verde existia. De tal modo, que progressivamente o amor se transformou num trabalhador intermitente que nunca sabe se tem ou não trabalho, embora toda a gente diga que o amor dá. Isso era dantes, bons tempos em que amor dava trabalho, agora não dá nenhum. E é justamente por isso, que está no desemprego."
 
Fernando Alvim - http://esperobemquenao.blogspot.com/

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